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No dia 7 de setembro de 1822, o Brasil nasceu oficialmente como nação independente. Mas quem de fato pode dizer-se livre e autônomo de lá para cá? A ruptura política não veio acompanhada de transformações sociais mais profundas. É por isso que pesquisadores falam até hoje em heranças excludentes para alguns grupos, como é o caso da população negra. O tema foi debatido no evento Independência Inconclusa, promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na mesa O Genocídio da população negra do Brasil.
Um dos debatedores, Luiz Eduardo Soares, antropólogo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, destacou o papel que o Estado desempenha historicamente na perpetuação da violência contra pessoas negras.
“Por que nós falamos em genocídio? Porque falamos de um segmento da população ao qual se endereça esse processo de violência. Ele se concentra e produz vítimas entre os mais pobres e na população negra. E por isso, as taxas de investigação são muito baixas. Isso quando são conhecidas! A precariedade, a urgência com que tudo isso é enfrentado, deveria atormentar qualquer consciência democrática e liberal”, ressaltou o antropólogo.
O presidente global da Central Única das Favelas (CUFA), Preto Zezé, reforçou a questão estrutural do racismo e da opressão contra os negros, “e que, justamente, pela dimensão temporal do problema, é preciso organizar uma luta coletiva de longa duração.
“Falamos de um país que teve sua fundação e sua existência marcada por quase 400 anos de escravidão. Essas sequelas estão muito presentes no nosso dia a dia. E a gente precisa fazer alguns movimentos estratégicos para que esse processo seja superado. É um processo muito longo, que se manifesta no dia a dia, e a gente tem que atuar conjuntamente. Primeira coisa, é ter a ideia de que essa agenda é de toda a sociedade e não apenas dos movimentos negros, porque, às vezes, parece que o problema é só nosso e a gente tem que enfrentar tudo sozinho. Desse jeito, as coisas não acontecem”, defendeu Preto Zezé.
Para o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, o Brasil tem dificuldade em lidar com a memória. Por isso, segundo ele, é importante estimular constantemente a reflexão sobre temas importantes do passado, principalmente sobre os que se mantêm fortes e influentes sobre o presente.
“Existe a ilusão de que o passado não nos determina e que não precisamos fazer um ajuste de contas com o passado colonial e escravista. Não são pesos leves e tolos. São muito fortes e nos observam. Temos uma sociedade que precisa resolver essas questões. Daí a importância das políticas de memória. E se torna necessária uma série de medidas concretas no nosso horizonte que aponte para a igualdade de direitos”, disse o presidente da SBPC.
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